quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O vôo do dragão

Este pequeno lagarto, nativo das florestas húmidas do sudoeste asiático, é conhecido como dragão voador, tendo como nome científico Draco volans. Não é propriamente um animal aterrador, mas partilha um dos atributos dos dragões das lendas. Não, infelizmente não deita fogo pela boca, mas tal como o nome indica este animal é capaz de voar. Não se deixem enganar pela ausência de asas. O dragão voador tem de facto duas patas da frente perfeitamente normais para um lagarto, só que não é ai que residem as capacidades aerodinâmicas desta criatura. Estes animais desenvolveram uma forma de voar muito diferente daquela que estamos habituados a ver em aves e mamíferos. Trata-se contudo de uma forma bastante "natural" quando se tem um aspecto semelhante a um lagarto, pois evoluiu, de forma independente, em pelo menos três grupos de animais. Como se passa de lagarto a dragão? É simples, estendem-se as costelas.

O dragão voador é mais exactamente um dragão planador pois, para deslizar entre as árvores, usa uma prega de pele brilhante e colorida, um patágio, apoiada nas sua costelas estendidas. Um lagarto que teve uma ideia semelhante aos actuais dragões voadores, e que terá vivido em plena época dos dinossauros, acaba de ser descrito por Pi-Peng Li na revistaProceedings of the National Academy of Science (ref1). Baptizado Xianglong zhaoi, eis aqui uma imagem do fóssil, com cerca de 15.5 centímetros de comprimento total.

Fabulosamente preservado. Numa tradução livre do resumo:
Planar é um modo de locomoção eficiente do ponto de vista energético, que evoluiu de forma independente, e de diferentes maneiras, em vários grupos de tetrápodes. Relatamos aqui sobre um lagarto acrodonte do Grupo do Cretácico Inicial de Jehol na China que mostra uma gama de traços morfológicos associados com o planar. Representa a única ocorrência conhecida desta especialização num lagarto fóssil e fornece evidência de uma diversificação ecológica dos escamados num nicho aéreo no Cretácico Inicial. O lagarto tem um patágio dorsal suportado pelas costelas, uma estrutura que evoluiu de forma independente nos kuehneosauros, lepidosauromorfos basais do Triásico Tardio, e no actual lagarto agamídeo Draco, revelando um caso surpreendente de evolução convergente entre lepidosauromorfos.

Apesar de semelhante aos Draco volans, o Xianglong zhaoi era, contudo, uma criatura com aspectos únicos. O patágio desta animal era muito semelhante a uma asa, e era suportado por uma rede de fibras de colagénio, algo que apenas se conhecia nos pterossauros e em animais como o Sharovipteryx, e de certa forma inesperado num animal planador. A forma do patágio, o quociente entre as suas proporções, a carga que suportava, todos estes aspectos caem dentro dos valores que se conhecem para animais que voam depressa e com grande capacidade de manobra. Eis aqui uma reconstrução mostrando o aspecto do animal em vida:

Já agora, Xianglong quer dizer dragão voador.

Ficha técnica
Primeira e segunda imagens cortesia de Alfeus Liman retiradas desta e desta páginas naWikimedia Commons.
Restantes imagens retiradas de comunicados de imprensa sobre a descoberta.

Referências
(ref1) Pi-Peng Li, Ke-Qin Gao, Lian-Hai Hou, and Xing Xu (2007). A gliding lizard from the Early Cretaceous of China. PNAS no prelo. Laço DOI.

3 COMENTÁRIOS:

OK disse...
Uma curiosidade: uma das teorias sobre a origem da lenda de dragões voadores que soltam fogo pela boca (no brasil é a cobra de fogo M´Boi Tata) é que eles corresponderiam a relampagos esfericos deslizando em zig-zag (um movimento comum neste fenomeno). A permanencia da imagem na retina dá a impressao de uma cobra de fogo (note que o dragao chines, conforme representado nas festas mitologicas, tem o aspecto de cobra). Já o relampago esferico, com sua eventual explosão, teria sido interpretado como a cabeça do dragao que solta fogo pelas ventas.
Ok, ok, eu sei que a teoria nao é muito verificavel, mas é uma interpretação física possivel do mito.
Anónimo disse...
Adorei o artigo! Mais do que isso, deliciei-me com o blog, que não conhecia! PARABÉNS!!
Joana Raposo
Roc disse...
Essa do relâmpago pode ser verdade, tanto que em algumas representações chinesas, o dragão chinês não tem um fim. Mas se os dragões ocidentais realmente existissem, teriam evoluído de animais como este réptil que encontraram.

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