sábado, 8 de fevereiro de 2014

Baiacu: o peixe que infla para se defender e que pode matar até 30 pessoas




O baiacu é um peixe que possui um dos mais exóticos sistemas de defesa do reino animal: quando se sente ameaçado por um predador ou por algum outro fator e, dessa forma, fica assustado ou irritado, ele enche o corpo de água ou o infla como se fosse uma bola de borracha ou uma bexiga. Esse comportamento o deixa com uma forma esférica e até três vezes maior do que o tamanho normal, de modo a afugentar o inimigo.

Graças à pele bastante elástica que possui, o baiacu não “rasga” quando incha. A espinha desse peixe também é diferenciada. Ela é flexível, capaz de se curvar e se adaptar ao novo formato do corpo, toda vez que o sistema de defesa do peixe é ativado e desativado na sequência.

Quando o baiacu está completamente cheio, uma válvula localizada na base da boca do peixe é empurrada na direção dos dentes. Dessa forma, a água ou o ar armazenados no interior do corpo são impedidos de sair, pelo menos até que o peixe se sinta seguro.

“Baiacu” é, na realidade, um nome popular dado a cerca de 150 espécies de peixes capazes de inflar o corpo quando se sentem ameaçados. Estes pertencem a três famílias: Triodontídeos,Tetraodontídeos e Diodontídeos. As espécies pertencentes à primeira família possuem uma placa (dente) inteiriça no maxilar superior e duas no inferior; as pertencentes à segunda família, por sua vez, possuem duas placas em cada um dos maxilares; enquanto que os pertencentes à terceira família possuem as duas placas inteiriças, tanto no maxilar superior quanto no inferior.

Os peixes pertencentes à família dos Diodontídeos são chamados de baiacus-de-espinho, devido aos espinhos grandes, grossos e triangulares que possuem ao longo de todo o corpo. Eles ficam mais visíveis a ameaçadores quando o animal infla, o que contribui para a intimidação dos predadores.




Muito comum em águas costeiras, o baiacu prefere ambientes de recifes de corais, embora seja encontrado desde os costões das ilhas oceânicas até os estuários e mangues. Mal nadador, ele quase nunca consegue esquivar-se com facilidade dos predadores. Utiliza, então, para se defender, os espinhos presentes no corpo (o que fazem enchendo o estômago de ar e água) e as mandíbulas poderosas que possui, dotadas de dentes grandes.

A carne do baiacu é muito apreciada na culinária mundial, em especial no Japão, onde a iguaria é conhecida como “fugu” e um prato dificilmente custa menos de 50 dólares. No entanto, é também um dos pratos mais controversos da culinária mundial. Cerca de cinco pessoas morrem todos os anos – e muitas outras são internadas – por ingerirem junto com a carne um poderoso veneno escondido no organismo do peixe. A substância, altamente tóxica, é denominada “Tetrodotoxina” e fica armazenada em uma pequena bolsa situada junto ao aparelho digestivo do peixe.

A Tetrodotoxina é uma neurotoxina 1.200 vezes mais mortal do que o cianeto. Apenas dois gramas dela são suficientes para matar uma pessoa. Já a quantidade total encontrada em único peixe é capaz de vitimar fatalmente 30 pessoas. A substância não é fabricada pelos baiacus, mas por bactérias que ficam alojadas nos peixes.




Com uma carne muito saborosa, sem gosto acentuado, sem gordura e de uma brancura sem igual, o baiacu deve ser limpo com um cuidado especial, para que os acidentes alimentares não aconteçam e não vitimem os apreciadores da iguaria. De acordo com especialistas na limpeza de baiacu, o grande cuidado a ser tomado é não estourar ou perfurar a bolsa que contém o veneno no momento de limpar o peixe. Depois disso, ele pode ser preparado como um peixe comum.

Após a correta limpeza do peixe, ele pode ser temperado inteiro ou em filés e preparado a gosto, “como se fosse qualquer outro peixe. No entanto, concordo que sempre haverá aquele gostinho de ‘roleta russa’ ou ‘quem viver verá!’”, confessa o pescador Antonio Carlos Cravo, de São Paulo - SP, em um artigo escrito por ele sobre limpeza de baiacus e publicado no portal Guia Pesca de Praia.

O cuidado é tão grande no Japão que apenas depois de dois anos de prática na limpeza os “Fugu Choorisi”, profissionais especializados nesse trabalho, podem executá-lo. Porém, mesmo como todo esse cuidado, ainda há casos de morte no país.




A intoxicação causada pela ingestão do veneno, quando pequena e moderada, pode provocar desde leve formigamento na boca até a queda da pressão sanguínea, com consequente perda da força física, além de comprometimento da fala e da respiração. O entorpecimento, a dor de cabeça e os problemas gastrointestinais também são comuns em casos como esse. Quando a intoxicação é grande, a toxina age de modo que acaba por bloquear a ação do sistema neural, e os problemas começam frequentemente com contrações musculares que podem progredir para a paralisia total. Nesses casos, a vítima fica imóvel, porém com plena consciência do que acontece ao redor. A morte, no entanto, pode ocorrer devido ao colapso dos pulmões e do coração.




A espécie Baiacu-arara (Lagocephalus laevigatus), predominante nas águas da costa brasileira, é muito consumida no estado do Espírito Santo, onde é componente da famosa Moqueca capixaba. O pescador Cravo afirma que, em seus estudos, verificou que essa espécie não apresenta toxidade tão grande como as outras, especialmente aquelas existentes nos oceanos Índico e Pacífico

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