Animais podem ter senso de humor?
Esforços de cientistas poderão produzir algumas das melhores evidências de que o humor não é algo experimentado exclusivamente por seres humanos
31 de março de 2014 | 17h 36
Peter McGraw e Joel Warner - Slate
Neste momento, num laboratório de pesquisa de alta segurança no Centro de Terapêutica Molecular Falk da Northwestern University, cientistas estão fazendo cócegas em ratos. Seu objetivo? Desenvolver uma pílula da felicidade de qualidade farmacêutica. Mas seus esforços poderão produzir também algumas das melhores evidências de que o humor não é algo experimentado exclusivamente por seres humanos.
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Macacos apresentam o tipo de resfolego mais parecido com o riso
Cientistas acreditam que o riso humano tenha evoluído do resfolego distinto emitido por nossos parentes primatas durante brincadeiras de luta; que o resfolego funciona como um sinal de que a brincadeira é pura diversão e que ninguém quer rasgar a garganta de ninguém. Numa amostra inteligente de trabalho científico detetivesco, a psicóloga Marina Davila-Ross, da Universidade de Portsmouth no Reino Unido, analisou gravações digitais do resfolego induzido por cócegas em chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos e também do riso humano. Descobriu que as similaridades vocais entre as espécies combinava com suas relações evolutivas. Chimpanzés e bonobos, nossos parentes mais próximos, apresentam o tipo de resfolego mais parecido com o riso, enquanto os ruídos de gorilas, muito abaixo na árvore genealógica, soam menos como o riso. E os orangotangos, nossos primos realmente distantes, resfolegam da forma mais primitiva.
Primatas não humanos não riem simplesmente - há evidências de que eles podem fazer suas próprias piadas. Koko, uma gorila de Woodside, Califórnia, que aprendeu mais de 2 mil palavras e 1 mil signos da Linguagem Americana de Sinais, é conhecida por brincar com significados diferentes da mesma palavra. Quando lhe perguntaram "O que você consegue pensar que é duro?", a gorila assinalou "pedra" (rock) e "trabalho" (work). Certa vez ela também amarrou os cadarços dos sapatos de seu treinador e assinalou "caçar".
Mas e quanto aos outros membros do reino animal - será que eles têm senso de humor? Marc Bekoff, professor de ecologia e biologia evolutiva na Universidade do Colorado em Boulder e autor de A Vida Emocional dos Animais, acredita que sim. Aliás, ele acha que estamos prestes a descobrir que muitos animais têm senso de humor, talvez até todos os mamíferos. A ideia de que animais podem apreciar uma comédia não é tão tresloucada como parece. A considerar algumas outras descobertas inovadoras que cientistas como Bekoff estão fazendo sobre o comportamento animal: eles descobriram que cães podem compreender a injustiça, aranhas podem exibir temperamentos distintos, e abelhas podem ser treinadas para serem pessimistas.
Como assinala Bekoff, Darwin dizia que a diferença entre a inteligência humana e a de animais é uma questão de grau, não de espécie. Ou como coloca Bekoff, "se temos um senso de humor, então animais não humanos também devem ter um senso de humor".
E os ratos? Um sentimento parecido inspirou o psicólogo Jaak Panksepp a entrar em seu laboratório na Bowling Green State University em Ohio certo dia em 1997 e dizer ao estudante Jaffrey Burgdorf: "Vamos fazer cócegas nuns ratos". O laboratório já havia descoberto que seus ratos emitiam ruídos ultrassônicos únicos na faixa de 50 quilohertz quando estavam se perseguindo mutuamente e engajados em brigas de brincadeira. Agora, os pesquisadores se perguntam se poderiam provocar esses ruídos fazendo cócegas. De fato, quando os pesquisadores começaram a fazer cócegas nos ventres dos ratos em seu laboratório, seus aparelhos de registro ultrassônico captaram os mesmos sons de 50 quilohertz. Os ratos caçaram avidamente seus dedos pedindo mais. Logo depois, quando a mídia noticiosa alardeou a existência do riso de ratos, pessoas de todo o mundo começaram a abrir suas gaiolas de ratos e engajando seus roedores de estimação em guerras totais de cócegas.
Encontramos Burgdorf em seu escritório no Centro Falk na Northwestern, onde ele prosseguiu seus esforços de fazer cócegas em ratos como professor de engenharia biomédica. Ele foi cauteloso, porém, sobre o que está havendo com seus roedores. "Eu não chamo isso necessariamente de riso, mas sim sinal de afeto positivo", disse Burgdorf. Sua cuidadosa escolha de palavras faz sentido. Nem todos estavam convencidos de que ele e Panksepp haviam descoberto um verdadeiro riso de ratos quando suas atividades de fazer cócegas em roedores veio inicialmente a público. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Crédito da imagem acima: Fuse/iStockphoto, chrisbrignell/iStockphoto. Photo illustration by Natalie Matthews-Ramo
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