quinta-feira, 30 de janeiro de 2014



Zoológico de BH completa 55 anos com mais de 3,7 mil animaisCentro de lazer recebe média de 100 mil visitantes por mês. O número dobra nas férias. Local é referência em reprodução

Publicação: 04/01/2014 06:00 Atualização: 04/01/2014 06:53

O gorila Leon chegou ano passado ao zoológico para ocupar o lugar de Idi Amin, que foi xodó do local por mais de 30 anos (Ramon Lisboa/EM/D.A Press - 22/11/13)
O gorila Leon chegou ano passado ao zoológico para ocupar o lugar de Idi Amin, que foi xodó do local por mais de 30 anos

Ele está no topo da lista de destinos obrigatórios de quem passa as férias em Belo Horizonte e é a casa de mais de 3,7 mil animais de 275 espécies, entre eles moradores ilustres como a elefanta africana Beré. Foi campo de golfe, serviu um tempo como fazenda de lavradores e já assistiu à fuga de uma onça-pintada até se tornar um dos mais importantes centros de pesquisa e reprodução do país, num ambiente capaz de fazer procriar bichos somente encontrados do outro lado do planeta. Comemorando o nascimento de várias espécies, o Jardim Zoológico de Belo Horizonte, na orla da Lagoa da Pampulha, completa este mês 55 anos com muita história para contar e a expectativa de receber cerca de 200 mil visitantes em janeiro.

Vários desses episódios estão guardados na memória de Paulo Cruz, funcionário da instituição há 34 anos. Filho de um dos tratadores de animais, ele tem a mesma idade do zoo, 55 anos. “No começo, as ruas eram todas de terra e havia poucos bichos, a maioria trazidos do Parque Municipal. O campo de futebol era muito usado pela comunidade”, conta Paulinho, que nasceu em 1958 no zoo, antes mesmo da inauguração oficial, em 25 de janeiro de 1959. Na época, os empregados moravam dentro da área verde, que havia sido idealizada para sediar o Golf Club da capital.

Elefantes estão entre animais que mais encantam visitantes na Pampulha (Beto Magalhães/EM/D.A Press)
Elefantes estão entre animais que mais encantam visitantes na Pampulha

No projeto original da construção de Belo Horizonte, o zoológico estava previsto no terreno ocupado atualmente pelo Minas Tênis Clube I, no Funcionários, Região Centro-Sul. Em 1941, a área na Pampulha foi comprada pelo então prefeito de BH, Juscelino Kubitschek, para construir o Golf Club. Apesar de ter sido implantado, o projeto não vingou por falta de jogadores, mas acabou dando nome à via principal do zoológico, a Rua Golfe.

O local ficou abandonado e, quatro anos depois, foi ocupado por um grupo de pequenos lavradores que cultivavam hortaliças e legumes. Apenas com a entrada de Américo René Gianetti na prefeitura, em 1950, houve nova destinação, com a idealização de um pequeno jardim zoológico. A intenção de Gianetti era levar os pássaros e cervos que estavam no Parque Municipal para a Pampulha. A inauguração ocorreu em 1959, na gestão do prefeito Celso Mello Azevedo.

Nos primeiros anos de funcionamento, o zoológico era, acima de tudo, um local de exposição de animais, sem trabalho aprofundado de pesquisa. E, nesse aprendizado diário na lida com os bichos, houve alguns sustos, como uma onça-pintada que fugiu da jaula, em meados dos anos 1960. “Lembro que a Polícia Militar tinha que nos buscar e levar à escola, por causa do perigo da onça”, conta Paulinho. O bicho foi encontrado, mas morreu com um tiro de espingarda. “Na época, não existiam equipamentos para sedar o animal”, ressalta o funcionário, que já foi tratador de animais.




Estrelas As primeiras melhorias ocorreram na década de 1970, quando moradores ilustres como o gorila Idi Amin e o casal de elefantes africanos Joca e Beré chegaram à instituição, em 1975 e 1977, respectivamente. O gorila Idi, que morreu em 2012, aos 39 anos, por causa de uma parada cardiorrespiratória, era de longe o xodó do zoológico e ostentou por muitos anos o título de único gorila em cativeiro da América do Sul. Depois de 27 anos de solidão, em 2011, ganhou a companhia de Kifta e Imbi. Kifta morreu no ano passado e, em novembro, o zoológico trouxe da Europa o casal Lou Lou e Leon. “Quando o Idi morreu foi uma tristeza geral”, lembra Paulinho.

Beré e Joca também protagonizaram momentos emocionantes e se tornaram os primeiros de sua espécie, em extinção, a reproduzir em cativeiro na América Latina. Em 1983, Beré ficou grávida, mas o filhote morreu antes de nascer e precisou ser retirado em procedimento bastante complicado. Em 1987, nasceu a elefanta Axé, e, cinco anos depois, Chocolate, trocado por um rinoceronte com um zoológico da Holanda. A parte triste dessa história de amor foi a morte de Joca, aos 22 anos, por causa de infecção causada pela ingestão de garrafas plásticas lançadas por visitantes.
Foto de arquivo mostra fazenda que foi escolhida para ser usada como área para alimentação dos animais do zoológico (Arquivo EM)
Foto de arquivo mostra fazenda que foi escolhida para ser usada como área para alimentação dos animais do zoológico

A falta de educação, aliás, é um problema que por muito tempo atrapalhou a vida dos animais do zoológico. Em 1989, a administração chegou a fechar a instituição para a visitação pública, depois que sete animais, entre eles a elefante Beré e o gorila Idi Amin, tiveram problemas de saúde por causa de agressões ou infecções causadas por alimentos e objetos lançados pelos turistas. Notícias da época dão conta que até um jacaré foi roubado para servir de churrasco a um grupo de três amigos.

Além de elefantes, girafas e gorilas, animais mais exóticos já moraram no zoo. “Teve uma época que trouxeram para cá uma família de pinguins, mas ele sobreviveram por quatro meses”, conta Paulinho. Um boto cor-de-rosa também foi trazido do Pantanal para viver numa piscina de concreto. Em 1991, o jardim zoológico passou a fazer parte da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, tornando-se também um jardim botânico e horto florestal, que começaram a ser construídos em 1996.

Se a hipopótamo Luna, de idade estimada de 40 anos, falasse, ela contaria tudo isso. Ela é o animal mais velho da instituição e, depois da morte de Idi, ocupou o posto de queridinha entre os funcionários do zoológico. No coração dos visitantes, há espaço para todos. “A leoa é a mais bonita”, comenta a pequena Valentina Pagiola, de 6 anos, sobre Hanna, uma das mais novas moradoras do zoo, que chegou em abril à instituição para fazer companhia ao leão Simba.


Linha do tempo


1941 – Então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek determina a compra da área onde hoje funciona o zoológico para sediar o Golf Club 

1959 – Zoológico de BH é inaugurado. Os principais exemplares eram aves e cervos trazidos do Parque Municipal

1975 – O gorila Idi Amin, com idade estimada de 2 anos, chega a BH, acompanhado da fêmea Dada, que morreu três anos depois

1989 – Nasce Axé, filhote de Joca e Beré, primeiro casal de elefantes africanos a reproduzir em cativeiro na América Latina. O primeiro parto do casal foi em 1983, mas o filhote nasceu morto

1991 – Zoológico passa a fazer parte da Fundação Zoobotânica e, cinco anos depois, começam as obras do Jardim Botânico

1995 – Aos 22 anos, morre o elefante Joca por causa de infecção provocada pela ingestão de lixo jogado no recinto por visitantes

2010 – Aquário da Bacia do Rio São Francisco é inaugurado

2012 – Em 7 de março, morre Idi Amin, aos 39 anos. No ano anterior, havia ganhado as companhias das gorilas Kifta e Imbi, depois de 27 anos de solidão

2013 – A leoa Hanna, a onças-pintada Janes, as onças-pardas Zeus e Apolo, além dos gorilas Leon e Lou Lou são os novos moradores do zoo


Berço da vida silvestre

O Jardim Zoológico comemorou em 2013 a reprodução de pelo menos sete espécies de mamíferos, algumas ameaçadas de extinção. O nascimento mais recente é de quatro filhotes de duas famílias de mico-leão dourado, nos últimos dias do ano. A espécie está na lista vermelha, entre os animais ameaçados de extinção, o que aumenta a importância do feito. Além dos micos, o zoo conta com bebês de ouriço-cacheiro, anta, hipopótamo, do primata bugio, do bovídeo Oryx e de zebra.

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